Tempo
Há alturas na minha vida em que me apercebo por que razões a geração dos nossos pais, em geral, está desactualizada, está a ficar velha... na verdade decrépita! Eu, nas tais alturas de que falo, compreendo a resposta. E ela é simples: eles não são jovens.
Passo a explicar.
Olhem bem para o vosso umbigo estudantil e vejam a quantidade de tempo que utilizam a fazer coisas que, de facto, não podem ser consideradas como obrigações para com outros. Eu já pensei neste assunto e apercebi-me, de uma maneira natural, que eu, até há bem pouco tempo, tinha unicamente a obrigação para com a minha mãe de tirar notas relativamente decentes dado que é ela que me sustenta. Acho uma troca de favores justa. Eu tento ser bem educado e um cidadão valioso e a minha mãe dá-me comida, casa e roupa lavada. Justo.
O problema é quando há mais obrigações. O adulto, de 30 anos, médio é casado, dois filhos e emprego das 9h30 às 18h30: tem uma vida sossegada. Mas pensemos melhor no dia-a-dia deste ser humano:
Acorda por volta das 7h, beija a mulher, queixa-se do despertador, toma banho, faz a barba, come o pequeno-almoço (enquanto a mulher acorda os filhos), ajuda os filhos a despacharem-se (enquanto a mulher come e prepara o pequeno-almoço para os petizes), agarra nas chaves do carro, empurra as crianças para o banco de trás ("comigo os miúdos vão sempre atrás"), olha para o relógio, já são 9h, está atrasado, os putos também, põe os miúdos na escola, 9h36 está no emprego.
Uff uff... parece-me mais do que aquilo que eu fazia num dia da minha vida... mas foi em duas horas, trinta e seis minutos e alguns segundos! No emprego, chateia-se com o patrão, bebe um café, apanha com o fumo dos outros, esforça-se por fazer um bom trabalho. Está bem está bem! Eu calo-me. Mas o que acontece é ele chegar às 18h30 estoirado, ter de fazer 30 mins extra para acabar uma coisa qualquer e ir para casa.
Chega a casa uma hora e meia depois - por causa do trânsito - às 21h janta, às 22h está a tentar por os miudos na cama, às 23h eles dormem finalmente! Ainda bem, há tempo que sobra para tempo de qualidade com a querida mulher. Mas haverá? Francamente é mais provável eles adormecerem antes de qualquer um deles ter alguma ideia.
E ele ainda se espanta quando aos 30 anos, este nosso amigo, não reconhece nenhum nome de nenhuma banda, só se lembra dos saudosos The QualquerCoisa.
Eu digo que o compreendo porque tenho acordado, saido de casa, trabalhado o dia inteiro, voltado a casa e ido dormir. Perde-se o rumo que se tinha, os hobbies, as pequenas felicidades. O pior de tudo é quando se chega ao ponto em que se esquece exactamente porque é que se ficava feliz com essas coisas. Eu também gostava de ser um Cusack num Alta fidelidade.
Fiz este post, entre duas linhas de código no meu projecto de EP... 6 casos de uso para daqui a uma semana, MC para fazer, a LPM sempre a chamar por mim e ainda querer ter tempo para estar com a Cat. Felizmente ainda sou um estudante e tenho, de vez em quando, tempo... Mas já nem me lembro de como era quando tinha só o tempo gasto com a vida de estudante...
/*there's nowhere left to hide
*in no one to confide
*the truth runs deep inside
*and will never die
*/