O blog que o Papa lia

quarta-feira, março 16, 2005

Em Soslaio

Andar exclusivamente de metro (o de Lisboa claro e não o Tram Roterdãesco do Porto) permite-me observar muitas pessoas, diferentes e iguais entre si. Desde a senhora de 40 anos, empregada doméstica, com 30 sacos à sua volta até às jovens moçoilas casadoiras juntamente com o bando de rapazotes que as perseguem.

Há dois tipo de pessoas mais interessantes no entanto. A pequena jovem universitária e o pequeno jovem universitário. Longe de serem uns party animals, nestes espécimes particulares de jovens há algumas características comuns: Querem ou são mesmo urbanos, tentam ser trendy mas non troppo, eles tentam dar um ar de sensível e bom enquanto que elas tentam dar um ar quasi-sexy e o mais longe possível de slutty.

O que acontece frequentemente é quando uma rapariga se senta perto de um rapaz ou vice-versa no metro. Sempre diagonalmente opostos nos quatro bancos do metro, quando se sentam fazem sempre um olhar, um pequeno olhar de soslaio. Não há sorrisos, não há qualquer tipo de expressão excepto um rápido movimentar de olhos. A partir daí é o desconforto. Vê-se que ambos desejam voltar a olhar um para o outro mas que não podem. Ele, que ainda usa cachecol mesmo estando calor, tem ar de menino mas faz o seu ar machão, como se ela não estivesse ali. Ela simplesmente vai olhando para todo o lado menos para ele, enquanto mexe no cabelo mostrando o pescoço cálido ansioso por um banho de sol.

E assim acontece... carruagens e comboios vêm e vão e tal acontece tão frequentemente que até foi possível eu reparar vezes suficientes para escrever isto. Mas nunca se falam, nunca mais se vêem, irão continuar na mesma vida, esquecidos de que ali podia estar uma pessoa que os iria fazer mais felizes do que nunca. E voltam à sua vida olvidados e perdidos.