A cena mais deprimente
Houve um momento na minha vida na qual descobri toda a dinâmica da relação adolescente. Convém explicitar que adolescente não é referente à idade dos relacionados mas sim à maturidade dos mesmos. Este tipo de relacionamento é típico pelo romantismo exarcebado, imitado dos filmes de hollywood (seria pior se fosse de bollywood), que os nossos jovens tentam praticar, ou melhor, acham que é assim que deve ser.
O exemplo máximo, na minha óptica, é o anel de namoro. Tenho amigos meus que o usam, não os condeno de maneira alguma dado que uma coisa que isto não é, é uma generalização. Cada um marca a sua relação de maneira diferente e o anel é uma das maneiras possíveis. Eu estou, simplesmente, a escrever sobre a relação adolescente em que um dos sinais de se estar na presença de uma é o anelinho que custou mil paus na ourivesaria do bairro.
Escrito isto passo a relatar um caso da minha vida que para mim se tornou a epítome daquilo que, para mim, é extremamente estranho:
A minha posição de observador situa-se no caminho de vinda de uma loja de informática, acabado de - se a memória não me atraiçoa - comprar um disco novo, a pé passando pela muy ilustre Praça Paiva Couceiro maravilhando-me pelas pérolas de cultura e de bem vestir que por lá se passeiam diariamente. Eu, o observador, olhei de relance para um casal que, de idade, nao teria mais de quinze anos, obviamente namorados, vivendo um quid-pro-quo.
A jovem senhorita tentava convencer o cavalheiro a entrar na pequena loja onde o velho ourives vende as suas obras. Dado que presunção e água benta cada um toma a que quer, eu presumi nesse instante - acertadamente, digo-o modestamente - que o propósito de tal acto seria o de comprar o tal anelinho de quatro euros e noventa e oito cêntimos.
A beleza do momento está em vários pormenores deliciosos. A resistência e timidez do rapaz em entrar na loja, a insistência da menina, o consentimento final do moço - um pobre viciado (ver posts anteriores) - e o tirar da carteira dunas, velha e usada desde os inocentes seis anos do pobre cavalheiro. Lá dentro lá estariam os dez euros necessários para a bela e bem vestida donzela dar mais uns beijinhos mais logo no banco do jardim, verdadeira prostituição socialmente aceitável.
Este episódio ocorreu há uns meses. É minha humilde convicção que os anéis estão esquecidos numa gaveta qualquer do jovem, à espera da próxima princesa de calças de fato de treino cor-de-rosa que use uma das peças. O pequeno homem estará precavido, não terá de investir mais noutra interessante e instigante jóia. A jóia do episódio, provavelmente, terá encontrado maior alegria no pretendente que gastou dois contos no pequeno aro dourado. Afinal, o aro de conto de reis estava sempre a cair do dedo...
Com isto vos deixo, não esquecendo um grande viva ao amor verdadeiro vivido por estes pequenos românticos.
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"I was five he was six..."